PROFECIA DAS 70 SEMANAS DE DANIEL
“Setenta semanas foram determinadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade santa, para acabar com a transgressão e encerrar o pecado, e para fazer expiação pelo erro, e para introduzir justiça por tempos indefinidos, e para apor um selo à visão e ao profeta, e para ungir o Santo dos Santos. E deves saber e ter a perspicácia de que desde a saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém até o Messias, o Líder, haverá sete semanas, também sessenta e duas semanas. Ela tornará a ser e será realmente reconstruída, com praça pública e fosso, mas no aperto dos tempos. E depois das sessenta e duas semanas o Messias será decepado, sem ter nada para si mesmo. E a cidade e o lugar santo serão arruinados pelo povo de um líder que há de vir. E o fim disso será pela inundação. E até o fim haverá guerra; o que foi determinado são desolações. E ele terá de manter em vigor o pacto para com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferenda. E sobre a asa de coisas repugnantes haverá um causando desolação; e até a exterminação derramar-se-á a coisa determinada também sobre aquele que jaz desolado.” — Da 9:24-27.
Uma Profecia Messiânica. É bastante evidente que esta profecia é uma “preciosidade” em matéria de identificação do Messias. É da máxima importância determinar o começo das 70 semanas, bem como sua duração. Se tivessem sido semanas literais de sete dias cada uma, então ou a profecia não se cumpriu, o que seria impossível (Is 55:10, 11; He 6:18), ou o Messias veio mais de 24 séculos atrás, nos dias do Império Persa, e não foi identificado. Neste último caso, não se cumpriram ou não se satisfizeram as numerosas outras qualificações especificadas na Bíblia para identificar o Messias. De modo que é evidente que as 70 semanas eram simbólicas de um período muito mais longo.
Por certo, os eventos descritos na profecia eram de natureza tal, que não podiam ter ocorrido em 70 semanas literais, ou em pouco mais de um ano e quatro meses. A maioria dos peritos bíblicos concorda que as “semanas” desta profecia são semanas de anos. Algumas traduções rezam “setenta semanas de anos” (So, AT, Mo, RS; notas em BJ, CBC, MC, PIB); uma nova tradução da Bíblia, Tanakh, publicada em inglês em 1985 pela Sociedade Publicadora Judaica, também inclui esta maneira de traduzir o texto numa nota. — Veja Da 9:24 n.
Quando é que começaram as “setenta semanas” proféticas?
Referente ao começo das 70 semanas, Neemias recebeu do Rei Artaxerxes, da Pérsia, no 20. ano do seu governo, no mês de nisã, permissão para reconstruir a muralha e a cidade de Jerusalém. (Ne 2:1, 5, 7, 8) Nos seus cálculos referentes ao reinado de Artaxerxes, Neemias evidentemente usou um ano calendar que começava com o mês de tisri (setembro-outubro), assim como no atual ano calendar civil dos judeus, e terminava com o mês de elul (agosto-setembro) qual 12. mês. Não se sabe se este era seu próprio cálculo ou era a maneira de calcular empregada na Pérsia para certos fins.
Alguns talvez objetem à declaração acima e indiquem Neemias 7:73, onde Neemias fala de Israel como estando ajuntado nas suas cidades no sétimo mês — baseando-se a ordem dos meses no ano de nisã a nisã. Mas, Neemias copiava ali “o livro do registro genealógico dos que tinham subido primeiro” com Zorobabel, em 537 AEC. (Ne 7:5) Novamente, Neemias descreve a celebração da Festividade das Barracas no seu tempo como ocorrido no sétimo mês. (Ne 8:9, 13-18) Isto era só apropriado, porque o relato diz que acharam o que Jeová ordenara “escrito na lei”, e nesta lei, em Levítico 23:39-43, diz que a Festividade das Barracas devia ocorrer no “sétimo mês” (isto é, do calendário sagrado, que vai de nisã a nisã).
No entanto, como evidência que indica que Neemias talvez usasse o ano de outono a outono (setentrional) ao se referir a certos eventos, podemos comparar Neemias 1:1-3 com 2:1-8. Na primeira passagem ele fala de receber as más notícias sobre a condição de Jerusalém em quisleu (terceiro mês do calendário civil e nono no calendário sagrado) no 20. ano de Artaxerxes. Na segunda, ele apresenta seu pedido ao rei, para que se lhe permita ir e reconstruir Jerusalém, e ele recebe a permissão no mês de nisã (sétimo do calendário civil e primeiro do sagrado), mas ainda no 20. ano de Artaxerxes. De modo que Neemias obviamente não contava os anos do reinado de Artaxerxes à base do ano de nisã a nisã.
Para determinar a época do 20. ano de Artaxerxes, remontamos ao fim do reinado do seu pai e predecessor, Xerxes, que morreu na última parte de 475 AEC. O ano de acessão de Artaxerxes começou assim em 475 AEC, e seu primeiro ano de reinado seria contado a partir de 474 AEC, conforme indicam outras evidências históricas. O 20. ano do governo de Artaxerxes, portanto, seria o ano 455 AEC. — Veja PÉRSIA, PERSAS (Os Reinados de Xerxes e de Artaxerxes).
“A Saída da Palavra.” A profecia diz que decorreriam 69 semanas de anos “desde a saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém até o Messias, o Líder”. (Da 9:25) A história secular, junto com a Bíblia, fornece evidência de que Jesus veio a João e foi batizado, tornando-se assim o Ungido, Messias, o Líder, em começos do outono (setentrional) do ano 29 EC. (Veja JESUS CRISTO [Tempo do Nascimento, Duração do Ministério].) Calculando para trás, a partir deste ponto básico na história, podemos determinar que as 69 semanas de anos começaram em 455 AEC. Naquele ano ocorreu a significativa “saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém”.
Em nisã (março-abril) do 20. ano do governo de Artaxerxes (455 AEC), Neemias solicitou ao rei: “Se teu servo parecer bom diante de ti, [peço] que me envies a Judá, à cidade das sepulturas de meus antepassados, para que eu a reconstrua.” (Ne 2:1, 5) O rei deu a permissão, e Neemias fez a longa viagem de Susã a Jerusalém. Por volta do dia quatro de ab (julho-agosto), depois de fazer uma inspeção noturna das muralhas, Neemias deu aos judeus a ordem: “Vinde e reconstruamos a muralha de Jerusalém, para que não continuemos mais a ser um vitupério.” (Ne 2:11-18) Portanto, “a saída da palavra” para reconstruir Jerusalém, conforme autorizado por Artaxerxes, foi posta em prática naquele mesmo ano por Neemias, em Jerusalém. Isto estabelece claramente o ano de 455 AEC como ano a partir do qual seriam contadas as 70 semanas.
Os reparos nas muralhas foram completados no dia 25 de elul (agosto-setembro), em apenas 52 dias. (Ne 6:15) Depois da reconstrução das muralhas, prosseguiram os reparos do restante de Jerusalém. Quanto às primeiras sete “semanas” (49 anos), Neemias, com a ajuda de Esdras, e, depois, de outros que talvez os tenham sucedido, trabalhou “no aperto dos tempos”, com dificuldades internas, dentre os próprios judeus, e externas, da parte dos samaritanos e de outros. (Da 9:25) O livro de Malaquias, escrito depois de 443 AEC, lamenta o péssimo estado em que o sacerdócio judaico tinha então caído.
Pensa-se que o retorno de Neemias a Jerusalém depois duma visita a Artaxerxes (veja Ne 5:14; 13:6, 7) ocorreu depois disso. A Bíblia não revela exatamente por quanto tempo depois de 455 AEC ele mesmo prosseguiu nos seus esforços de reconstruir Jerusalém. Todavia, a obra foi evidentemente completada dentro de 49 anos (sete semanas de anos) ao ponto necessário, e Jerusalém e seu templo permaneceram, aguardando a vinda do Messias. — Veja MALAQUIAS, LIVRO DE (Tempo da Composição).
A Chegada do Messias Depois de ‘Sessenta e Nove Semanas’. Quanto às “sessenta e duas semanas” seguintes (Da 9:25), que fazem parte das 70 semanas e são mencionadas em segundo lugar na seqüência, elas prosseguiriam depois da conclusão das “sete semanas”. Portanto, o tempo “desde a saída da palavra” para reconstruir Jerusalém até o “Messias, o Líder”, seria 7 mais 62 “semanas”, ou 69 “semanas” — 483 anos — desde o ano 455 AEC até 29 EC. Conforme já mencionado, no outono (setentrional) deste ano 29 EC, Jesus foi batizado em água, foi ungido com espírito santo e iniciou seu ministério como “Messias, o Líder”. — Lu 3:1, 2, 21, 22.
De modo que a profecia de Daniel, com séculos de antecedência, fixou o ano exato da chegada do Messias. Pode ser que os judeus do primeiro século EC tenham feito cálculos à base da profecia de Daniel e, portanto, estavam atentos ao aparecimento do Messias. A Bíblia relata: “Ora, visto que o povo estava em expectativa e todos raciocinavam nos seus corações a respeito de João: ‘Será este o Cristo?’” (Lu 3:15) Embora esperassem o Messias, evidentemente não podiam fixar o mês, a semana ou o dia exatos da sua chegada. Por isso se perguntavam se João era o Cristo, embora João evidentemente iniciasse seu ministério na primavera de 29 EC, uns seis meses antes de Jesus se apresentar para o batismo.
“Decepado” na metade da semana. Gabriel disse mais a Daniel: “Depois das sessenta e duas semanas o Messias será decepado, sem ter nada para si mesmo.” (Da 9:26) Foi algum tempo depois do fim das ‘sete mais sessenta e duas semanas’, realmente uns três anos e meio depois, que Cristo foi decepado na morte numa estaca de tortura, renunciando a tudo o que tinha, como resgate para a humanidade. (Is 53:8) A evidência indica que Jesus passou a primeira metade da “semana” ocupado no ministério. Em certa ocasião, provavelmente no outono de 32 EC, ele apresentou uma ilustração, aparentemente referindo-se à nação judaica como figueira (compare isso com Mt 17:15-20; 21:18, 19, 43) que não dera fruto por “três anos”. O vinhateiro disse ao dono do vinhedo: “Amo, deixa-a também este ano, até que eu cave em volta dela e lhe ponha estrume; e, se então produzir fruto no futuro, muito bem; mas, se não, hás de cortá-la.” (Lu 13:6-9) Talvez se referisse ali ao período de seu próprio ministério para com aquela refratária nação, ministério que até aquele momento já continuara por uns três anos e entraria no quarto ano.
Pacto em vigor “por uma semana”. Daniel 9:27 declara: “E ele terá de manter em vigor o pacto para com muitos por uma semana [ou sete anos]; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferenda.” O “pacto” não podia ser o pacto da Lei, porque o sacrifício de Cristo, três anos e meio depois do começo da 70. “semana”, resultou na remoção dela por Deus: ‘Ele a tirou do caminho por pregá-la na estaca de tortura.’ (Col 2:14) Também, “Cristo nos livrou da maldição da Lei por meio duma compra . . . O propósito foi que a bênção de Abraão, por meio de Jesus Cristo, fosse para as nações”. (Gál 3:13, 14)
Deus, por meio de Cristo, deveras estendeu as bênçãos do pacto abraâmico aos descendentes naturais de Abraão, excluindo os gentios até que o evangelho fosse levado a eles pela pregação de Pedro ao italiano Cornélio. (At 3:25, 26; 10:1-48) Esta conversão de Cornélio e da sua família ocorreu depois da conversão de Saulo de Tarso, que em geral se pensa ter ocorrido por volta de 34 EC; depois disso, a congregação usufruiu um período de paz, sendo edificada. (At 9:1-16, 31) Portanto, parece que a introdução de Cornélio na congregação cristã ocorreu por volta do outono de 36 EC, que seria o fim da 70. “semana”, 490 anos contados a partir de 455 AEC.
‘Feitos cessar’ os sacrifícios e as oferendas. A expressão ‘fazer cessar’, usada com referência ao sacrifício e à oferenda, significa literalmente “causar ou fazer sabadear, repousar, desistir do trabalho”. “O sacrifício e a oferenda” que são ‘feitos cessar’, segundo Daniel 9:27, não podiam ser o sacrifício resgatador de Jesus, nem seriam logicamente quaisquer sacrifícios espirituais dos seguidores das suas pisadas. Isto tem de referir-se aos sacrifícios e às oferendas ofertados pelos judeus no templo em Jerusalém, segundo a Lei de Moisés.
A “metade da semana” ocorreria no meio de sete anos, ou depois de três anos e meio dentro daquela “semana” de anos. Visto que a 70. “semana” começou por volta do outono de 29 EC, por ocasião do batismo e da unção de Jesus para ser o Cristo, a metade daquela semana (três anos e meio) se estenderia até a primavera de 33 EC, ou a época da Páscoa (14 de nisã) daquele ano. Parece que este dia foi o 1. de abril de 33 EC, segundo o calendário gregoriano. (Veja REFEIÇÃO NOTURNA DO SENHOR [Ocasião da Sua Instituição].) O apóstolo Paulo nos diz que Jesus ‘veio para fazer a vontade de Deus’, que era ‘eliminar o primeiro [os sacrifícios e as oferendas segundo a Lei] para estabelecer o segundo’. Fez isso por oferecer seu próprio corpo em sacrifício. — He 10:1-10.
Embora os sacerdotes judeus continuassem a oferecer sacrifícios no templo em Jerusalém até a destruição deste em 70 EC, os sacrifícios pelo pecado deixaram de ter aceitação e validez perante Deus. Jesus disse a Jerusalém pouco antes da sua morte: “A vossa casa vos fica abandonada.” (Mt 23:38) Cristo “ofereceu um só sacrifício pelos pecados, perpetuamente . . . Porque é por meio de uma só oferta sacrificial que ele aperfeiçoou perpetuamente os que estão sendo santificados”. “Ora, onde há perdão [de pecados e de atos contra a lei], não há mais oferta pelo pecado.” (He 10:12-14, 18) O apóstolo
Paulo salienta que a profecia de Jeremias falou de um novo pacto, tornando assim obsoleto e antiquado o pacto anterior (o pacto da Lei), “prestes a desaparecer”. — He 8:7-13.
Acabados a transgressão e o pecado. O decepamento de Jesus na morte, sua ressurreição e seu comparecimento no céu resultaram em se ‘acabar com a transgressão e encerrar o pecado, bem como em fazer expiação pelo erro’. (Da 9:24)
O pacto da Lei expusera os judeus como pecadores, condenara-os como tais e lhes trouxera a maldição como violadores do pacto. Mas, onde ‘abundara’ o pecado conforme exposto ou tornado evidente pela Lei mosaica, abundaram muito mais a misericórdia e o favor de Deus por meio do seu Messias. (Ro 5:20) Por meio do sacrifício do Messias, a transgressão e o pecado dos pecadores arrependidos podem ser cancelados, e sua penalidade suspensa.
Introduzida a justiça eterna. O valor da morte de Cristo na estaca forneceu aos crentes arrependidos uma reconciliação. Colocou-se sobre os seus pecados uma cobertura propiciatória, e abriu-se-lhes o caminho para serem “declarados justos” por Deus. Esta justiça será eterna e produzirá vida eterna para os declarados justos. — Ro 3:21-25.
Unção do Santo dos Santos. Jesus foi ungido com espírito santo por ocasião do batismo, o espírito santo descendo sobre ele na representação visível duma pomba. Mas a unção do “Santo dos Santos” refere-se a mais do que à unção do Messias, porque esta expressão não se refere a uma determinada pessoa. “O Santo dos Santos” ou “o Santíssimo” é a expressão usada para se referir ao verdadeiro santuário de Jeová Deus. (Da 9:24; Êx 26:33, 34; 1Rs 6:16; 7:50) Portanto, a unção do “Santo dos Santos” mencionada no livro de Daniel tem de relacionar-se com a “tenda maior e mais perfeita, não feita por mãos”, na qual Jesus Cristo, como o grande Sumo Sacerdote, entrou “com o seu próprio sangue”. (He 9:11, 12)
Quando Jesus apresentou ao seu Pai o valor do seu sacrifício humano, o próprio céu tinha a aparência da realidade espiritual representada pelo Santíssimo do tabernáculo e do posterior templo. De modo que a moradia celestial de Deus deveras fora ungida, ou posta à parte, como o “Santo dos Santos” no grande arranjo do templo espiritual que veio à existência quando Jesus foi ungido com espírito santo, em 29 EC. — Mt 3:16; Lu 4:18-21; At 10:37, 38; He 9:24.
‘Aposição dum selo à visão e ao profeta.’ Todo esse trabalho realizado pelo Messias — seu sacrifício, sua ressurreição, seu comparecimento com o valor do seu sacrifício perante o Pai celestial e as outras coisas que ocorreram durante a 70. semana — ‘apõe um selo à visão e ao profeta’, mostrando que são verdadeiros e que procedem de Deus. Marca-os com o selo de apoio divino, como procedentes duma única fonte divina e não do homem errante. Sela a visão como restrita ao Messias, porque encontra seu cumprimento nele e na obra de Deus feita por meio dele. (Re 19:10) Sua interpretação é encontrada nele, e não podemos esperar seu cumprimento em outro. Nada mais desselará seu significado. — Da 9:24.
Desolações para a cidade e o lugar santo. Foi depois das 70 “semanas”, mas em resultado direto da rejeição de Cristo pelos judeus durante a 70. “semana”, que os eventos da última parte de Daniel 9:26 e 27 tiveram cumprimento. A história registra que Tito, filho do Imperador Vespasiano, de Roma, foi o comandante das forças romanas que vieram contra Jerusalém. Esses exércitos realmente entraram em Jerusalém, e no próprio templo, como uma inundação, e desolaram a cidade e seu templo. Estarem esses exércitos pagãos em pé no lugar santo tornou-os uma “coisa repugnante”. (Mt 24:15) Fracassaram todos os esforços anteriores ao fim de Jerusalém para acalmar a situação, porque o decreto de Deus foi: “O que foi determinado são desolações”, e “até a exterminação derramar-se-á a coisa determinada também sobre aquele que jaz desolado”.
SETENTA SEMANAS
455 - 406 ◀ AEC | EC ▸29 33 36
← 7 Semanas →← 62 Semanas →← Semana →
MATÉRIA ADICIONAL